Bretanha, as cidades medievais de Dinan e Rennes

Da costa seguimos para o interior da Bretanha, mas sempre com a água dos rios a moldarem o carácter de duas das mais bonitas cidades medievais bretãs, como o La Rance, em Dinan, e o La Vilaine, em Rennes.

Dinan está perto da foz do La Rance, em Saint-Malo, e na Idade Média foi povoado de comércio onde os barcos seguiam rio abaixo até encontrarem o mar na Mancha. A arquitectura medieval da cidade que os Duques da Bretanha transformaram em praça-forte a partir do século XIII não mudou ainda. A Torre de Sainte-Catherine, com 16 metros e assente numa rocha, vigia o La Rance, que corre pacatamente abaixo, num belo vale de margens verdes.

É até ao seu porto que descemos, atravessando a Velha Ponte, para melhor apreciar o sossego do amanhecer do lugar, onde os barcos descansam sobre os reflexos da natureza e do granito na água.

Subimos de volta ao coração de Dinan, na parte alta, por uma rua empedrada inclinada com uns bonitos edifícios de granito.

E assim entramos no centro histórico pela Porte du Jezual, seguindo pela rua de mesmo nome, a mais bonita de Dinan. Já tínhamos visto alguns, mas agora são em maior número os edifícios metade granito / metade madeira, alguns datados do século XIV. Há muita cor, trazida quer pelas listas de madeira nas fachadas, quer pelas portadas e janelas. Não faltam sequer os arranjos florais. É fácil sentirmo-nos numa viagem no tempo.

A Tour de l’ Horloge é uma construção do século XV e um símbolo da afirmação da cidade como parceiro de importância para os duques da Bretanha. Nela se reuniram os conselheiros locais até à Revolução Francesa e a sua afiada torre de 43 metros, tão ou mais alta do que as igrejas, é demonstrativa do poder político da Dinan de então.

Perto dela encontramos a Casa Keratry, construída 1559, também em metade pedra / metade madeira, com uns pormenores escultóricos na fachada. O curioso deste edifício é que estava na comuna de Lanvollon, a cerca de 80 kms de Dinan, e após ser alvo de um incêndio pequeno foi decidido destruí-la, mas Dinan recuperou-a e reconstruiu-a neste preciso lugar em 1939.

A cidade já esteve toda ela muralhada e, para além da Tour de Sainte-Catherine e da Porte du Jezual, veem-se mais torres e portas, entre as quais a Porte du Guichet junto ao Castelo.

Outro dos momentos altos de qualquer passeio por Dinan, sempre agradável, é vivido na praça diante da Basílica Saint-Sauveur, um belo conjunto arquitectónico. Nas suas traseiras, o Jardin Anglais funciona não apenas como um espaço de refúgio, como também de miradouro para o porto à beira do rio La Rance.

A vista que nos recebeu é também aquela que nos faz despedir da bela Dinan e rumar a Rennes, a capital da Bretanha, a 45 minutos de distância, para conhecer mais uma cidade medieval, delícia de qualquer viajante.

Com uma história com mais de 2000 anos, no tempo da Gália romana Rennes já possuía importância e a partir do século VI tornou-se capital do Ducado da Bretanha, ao que não foi certamente alheio a sua boa localização geográfica, entre dois rios e próximo quer da Mancha quer do Atlântico. Destruída por um fogo em 1720, Rennes teve de reerguer-se e o seu centro medieval com edifícios em madeira foi parcialmente reconstruído em pedra (exterior em madeira, mas interior em gesso ou pedra, de forma a proteger de novo fogo) – mas para a restante cidade foi proibido o uso da madeira. Não obstante, o seu centro histórico está bem conservado, com muitos edifícios protegidos como monumentos históricos, incluindo um dos maiores conjuntos de arquitectura em “pan de bois” de França. Já havíamos escrito sobre ela a propósito de Rouen, capital da Normandia, e em Rennes (e Dinan) voltámos a poder apreciar esta bela técnica de construção vinda da Idade Média.

A Place du Champ Jacquet, a lembrar um castelo de cartas, é talvez a mais cénica da cidade. Para lá dela entramos mais propriamente no coração antigo de Rennes. São três ruinhas, a Rue Saint Sauveur, Rue de la Psalette e a Rue du Chapitre onde abundam os edifícios à “pans de bois” do séc XVII. As vigas de madeira – horizontais, verticais ou diagonais -, em várias cores, decoram os pisos superiores, ligeiramente mais largos do que os inferiores, por forma a aumentar a estabilidade dos edifícios e, ao mesmo tempo, cria mais espaço e permite abrigar os clientes das lojas que tradicionalmente ocupavam os pisos térreos. Alguns destes edifícios mais antigos possuem umas curiosas figuras esculpidas, enquanto que os mais recentes mostram antes motivos geométricos.

Juntamente com as suas casinhas, a Basílica Saint Sauver e a imponente Catedral Saint Pierre dominam o centro histórico.

A Porte Mordelaise, com duas torres, uma de cada lado, é um símbolo do Ducado da Bretanha e era uma das entradas da cidade medieval. Parte da fortificação que outrora existiu, da antiga cidade galo-romana resta também a Tour Duchesne.

Já fora do centro medieval, mas ainda com ar de outro tempo, a Place de La Mairie é talvez a mais emblemática de Rennes. Reconstruída após o referido incêndio de 1720, acolhe o Hotel de Ville e a Opera – observe-se com atenção, estes dois edifícios são como um negativo da forma do outro, como se os dois se pudessem encaixar.

Numa praça ao lado fica a Place du Parlement de Bretagne, também construída após 1720, sendo hoje o palácio que lhe dá nome sede da justiça local.

As ruas do centro de Rennes são cheias de comércio e muito movimentadas. A Place des Lices transforma-se aos sábados num mercado de rua muito agitado, considerado um dos melhores de França. Toda a Rennes parece muito vivida, uma constatação que não surpreende depois de sabermos que é uma cidade jovem, com a oitava maior universidade do país. Em 2018, foi, aliás, considerada pelo L’ Express a melhor cidade francesa para se viver.

Não tivemos tempo para experimentar a sua vivacidade no Parc du Thabor, escolhendo ao invés conhecer o Les Champs Libres, um pouco mais afastado do centro, embora a uma curta caminhada. Este centro cultural de Rennes acolhe a Biblioteca, o Museu da Bretanha e o Espaço Ciência e foi inaugurado em 2006, um projecto do arquitecto Christian de Portzamparc, vencedor do Pritzker em 1994.

A beleza e o prazer de viver Rennes não fica completo sem uma caminhada ao longo do rio La Vilaine, cujas margens se prestam a um passeio sem pressas.

A fechar a jornada por Rennes e pela Bretanha, não deixámos de ver parte da Dinard que não vivemos. “Baigneuse à Dinard” é a obra que Pablo Picasso pintou em 1928, influenciado pela sua estadia no balneário vizinho de Saint-Malo, e está exposta no Museu de Belas Artes de Rennes. Não se perdeu tudo.

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