Pouco mais de meio dia em Guangzhou pode não ter dado para conhecer ou entender a cidade, mas deu para uma constatação: esta China moderna e urbana é cheia de contradições. E, na minha opinião, estas contradições desta nova China mais não fazem do que resumirem-se a uma ideia: de que no mundo há espaço para todos no mesmo espaço.
Já disse que o meu objectivo era ver o Guangzhou Opera House da Zaha Hadid. Mas qual não foi a minha estupefacção quando subo à terra vinda do metro e deparo-me com uma praça imensa cheia de edifícios de uma arquitectura cuidada e arranjos exteriores apelativos aos nossos sentidos, com a dita Torre de Cantão como observatório de toda esta revolução num espaço que agora se tornou nobre. Ou seja, afinal a Opera House da Zaha é apenas um mero figurante entre a Torre de Cantão, o Museu de Guangdong, a Biblioteca de Guangzhou e as Torres Gémeas de Guangzhou (por enquanto ainda uma só). E, afinal, só nesta área imensa, mas apenas uma pequeníssima parte de Guangzhou, era merecedora de um dia inteiro. Resultado: como queria mesmo ver com atenção todos os contornos e formas do edifício da Zaha, percorrendo todo o seu exterior, acabámos por perder aqui umas horitas do nosso dia.
Daqui seguimos para o Museu e Mausoléu do Rei Nanyue, o qual nos mostra o túmulo deste rei que governou por volta do longínquo século II a.C durante a dinastia Han. Para além do túmulo e dos artefactos encontrados junto a ele, o edifício do museu é também ele digno de se ver. O túmulo foi encontrado no principio dos anos 80 do século passado e o museu constituído no final dessa década. É desde aí muito elogiado e considerado um dos melhores museus chineses. Faz lembrar o museu (também em cor de tijolo) e os túmulos do Senhor de Sipan, no Peru, embora pense que os túmulos sul americanos sejam muito mais interessantes.
A próxima paragem, desta vez depois de uns minutos de táxi, foi o Templo das Seis Árvores Banyan, conjunto budista datado de 537. Simplesmente fantástico. São vários templos com estátuas do Buda, entre elas do Buda sorridente. Mas o que mais delicia é a Pagoda Florida, ali no centro, logo uns passos após a entrada. Esta construção de 1097 é belíssima e só dá vontade de ficar ali a olhá-la majestosa. E eu fiquei. Até porque algum local meteu uns papéis nas mãos da minha mãe e levou-a para dentro de um dos templos para assistir à cerimónia. E a mamã lá foi ficando, não me restando a mim outra solução se não esperá-la contemplando saborosamente esta Pagoda.
Ora bem. Até aqui tínhamos tido experiências, pode dizer-se, de diferentes épocas em Guangzhou. Começámos com o metro dos nossos tempos, seguido da arquitectura futurista, um pouco mais para trás para a arquitectura dos anos 80 do mausoléu e por fim nos templos de mais de mil anos. Havia de se seguir uma visita àCatedral do Sagrado Coração, precisamente no coração da cidade velha de Guangzhou, construção esta do século XIX, influência ocidental no sul da China em consequência das derrotas autóctones às mãos dos estrangeiros.
Terminámos, assim, o dia no centro da cidade velha. Confusa, barulhenta, ruas ocupadas por pessoas e objectos de venda ou transporte. Os adereços vermelhos dominavam. Nem sei bem por onde andámos, queria ir para a Ilha de Shamian com os seus edifícios coloniais mas já era tarde.