Dornes é uma vila no concelho de Ferreira do Zêzere. Mas é muito mais do que isso, já sabe quem a conhece ou ficará a saber quem a vier a conhecer.
Pode ser vila no papel, mas no nosso imaginário é uma aldeia e logo uma das mais bonitas de Portugal.
Instalada numa pequena península à beira do rio Zêzere e da Barragem de Castelo de Bode, é a sua envolvente paisagística que nos seduz logo de imediato. O casario é pequeno, mas destaca-se naquela imensa paisagem de água e verde que a envolve.
Assim como se destaca a Torre de vigia que os templários aqui ergueram. De raiz romana, os templários deram-lhe forma pentagonal, algo raro no nosso país, e foram desenvolvendo a aldeia medieval à volta desta torre de defesa da linha do Zêzere – Tejo contra os mouros, num lugar estratégico perto de Tomar, a sede da Ordem do Templo. No tempo de D. Manuel a Torre de Dornes foi adaptada a torre sineira.
Crê-se que Dornes seja até anterior à fundação da nossa nacionalidade. As suas origens assentam em lendas, a acrescentar à construção do carisma da bela Dornes. Conta-se que há muito tempo atrás vozes de choro eram ouvidas no cimo do cabeço. A Rainha Santa Isabel, mulher do rei D. Dinis, mandou construir aí uma igreja e já desde os finais do século XIII que muitos ali acorrem na Romaria do Pranto.
A igreja foi entretanto muito modificada, mas o seu interior segue cativante com o altar em talha dourada, azulejos e pequenos vitrais. E a Romaria do Pranto perdura, como testemunham os 13 cruzeiros de pedra com motivos azulejares que representam cenas da Paixão de Cristo que vamos vendo desfilar à medida que nos aproximamos de Dornes.
O enchimento da barragem de Castelo de Bode nos anos 80 levou a uma tal subida das águas do Zêzere que o cabeço onde se situa Dornes se transformou numa península. Logo, tudo à sua volta é água. Para além do turismo, a economia da aldeia limita-se a uma pequeníssima escala de construção de barcos em madeira.
A gastronomia é também uma atracção por aqui. No fim de semana em que visitámos Dornes decorria no concelho de Ferreira do Zêzere o Festival do Lagostim de Rio. No sentido de promover os produtos locais são muitos mais os festivais a que aderem vários restaurantes da região: neste mês de Maio decorrerá o da fava, em Junho o do ovo, em Novembro o da abóbora e em Janeiro o das migas.
Os “dornitos” são umas bolachas com a característica cruz templária nelas desenhada comercializados e bem saboreados em Dornes.
De volta à paisagem, vale a pena deixar Dornes e continuar junto ao Zêzere e barragem, com o pinhal a envolver-nos, até Vale Serrão e Rio Cimeiro para presenciar mais vistas tranquilas. Um olhar atento descobre até umas gigantescas laranjas num quintal e a curiosidade de mãe faz o braço esticar alto para conquistar o alheio.
Ferreira do Zêzere, sede de concelho, tem como seu grande atrativo a Pastelaria Pérola do Zêzere, ideal para abastecer de doçaria local. Doces com a tijelada e outros com nomes improváveis como “bons maridos” ou “boas esposas” estão à nossa disposição para serem devorados.
Daqui até ao Lago Azul, onde pernoitámos, é um pulinho.
A Barragem de Castelo de Bode era a maior albufeira de Portugal até ao enchimento do Alqueva. São cerca de 60 kms que vão desde os arredores de Tomar até Cernache do Bonjardim. O nome “castelo” faz crer na existência de uma fortificação antiga que por ali haveria e o nome “bode” será referência ao ídolo dos templários, o bafomet, que possuía a forma de um bode.
Construída nos anos 50 do século passado, a intenção inicial deste projecto era a de reter as águas provenientes do maciço central da Serra da Estrela para a produção de energia eléctrica. Mais tarde, com o crescimento exponencial de Lisboa e sua área metropolitana, a sua função passou a ser a da captação de água potável e seu abastecimento à Grande Lisboa.
No entanto, o bonito Zêzere (o segundo maior rio exclusivamente em território português) e a sua envolvência fazem da Barragem e desta região um local ideal para o lazer, a fruição da natureza e o exercício de inúmeras actividades náuticas.
A Estalagem do Lago Azul tem uma das paisagens mais bonitas que se pode obter desde um quarto de hotel.
(tristemente, por esta época ainda se vê a paisagem queimada em consequência dos terríveis fogos do ano passado)
A praia fluvial da Castanheira tem muito boas condições para se nadar e um pouco mais adiante é o paraíso para todos aqueles que se quererem aventurar em desportos aquáticos que nunca vira ou ouvira falar.
Estes braços do Zêzere que vão furando tranquilamente a terra e moldando-a de forma surpreendente são sobretudo ideais para se descobrir recantos escondidos, seja na água ou fora dela.
A voltar, repetidas vezes.