Este texto irá começar pelas conclusões.
Vila Nova de Cerveira é provavelmente a mais encantadora povoação à beira Minho e o Forte de Lovelhe o lugar mais incrível para se visitar.
Começando pelo Forte, instalado à beira rio antes de entrarmos em Vila Nova de Cerveira. Construído entre 1660 e 1662, um período em que se vivia a Guerra da Restauração, o seu propósito era o de reforçar a defesa de Vila Nova de Cerveira e impedir a passagem do inimigo nesta parte do rio. Do outro lado do rio está Espanha, já se sabe, com quem travávamos na época a dita guerra. Acontece que o Forte de Lovelhe acabou por desempenhar um papel mais decisivo num outro episódio da história de Portugal, ao impedir o avanço das tropas do General Soult aquando da Segunda Invasão Francesa em 1809.
Não é no entanto o seu papel na história que causou o meu arrebatamento por este Forte, antes a sua situação de abandono. Sim, o abandono pode deslumbrar e entusiasmar. Esta fortaleza abaluartada com a forma de um trapézio está inteiramente tomada pela vegetação. Mais uns tempos sem limpeza do terreno e os baluartes deixarão de se perceber. Nunca a expressão “envolvido pela natureza” foi tão literal e certeira. De um lado o rio e do outro a montanha. Pelo meio um pequeno forte abandonado e tomado pela vegetação indomável. É o ambiente de aventura, como se explorássemos um lugar histórico mas esquecido pelo Homem, que nos faz render. Julgava-me sozinha por aqui, circundando os muros da fortaleza rodeada de verde por todo o lado, quando avisto dois cães. Susto. Mas logo percebi que estavam acompanhados do seu dono e que este sentiu o mesmo que eu: como se a sua fortaleza, o seu lugar de recato, estivesse a ser invadido. O ambiente sublime chegou, todavia, para os dois.
O que faz do Forte de Lovelhe um lugar tão especial, já se viu, é o seu estado de abandono e as paisagens que o secundam.
O Monte Cristo, o ponto mais alto do concelho, começa a ganhar altura desde aqui e não apenas do Forte de Lovelhe podemos distinguir a figura do cervo que é símbolo da vila quase a tocar o céu. O nome de Vila Nova de Cerveira tem a sua origem, pois, nos cervos que pastavam nas encostas férteis da região.
Fundada por D. Dinis em 1320, este rei logo mandou construir um castelo junto ao rio, mais uma das fortalezas ao longo do rio Minho que constituía a linha de defesa dos ataques espanhóis.
O pequeno Castelo com a forma oval tem dentro das suas muralhas algumas infra-estruturas em estado de abandono. A pousada que ocupava o seu espaço na quase totalidade está definitivamente encerrada e planos para a reconversão e utilização do Castelo aguardam financiamento no âmbito do projecto Revive.
É extra-muralhas que a povoação de Vila Nova de Cerveira se mostra hoje viva. Desde logo, aos sábados é montada uma feira enorme junto às muralhas e sobranceira ao rio. O aglomerado de abarracamento não suscitou nem a minha simpatia estética nem curiosidade pelos seus produtos em venda.
Mas logo à entrada do largo que é o coração de Vila Nova de Cerveira – e onde encontramos a Porta da Vila de entrada no Castelo – vemos alguns elementos interessantes que nos dão as boas vindas.
A Fonte da Vila era onde os habitantes da vila vinham abastecer de água até esta ter passado a ser canalizada. Provavelmente datada do século XVII, veem-se no topo desta fonte as armas reais encimadas por uma coroa e uma cruz e em baixo três bicas em forma de carranca. A Casa verde com a fachada preenchida de azulejos dessa cor fica nas suas traseiras.
E assim entramos no centro do movimentado terreiro de Vila Nova de Cerveira. Aí se ergue uma pirâmide, a Memória, homenagem aos defensores do Minho durante a Guerra Peninsular. Lugar para se deixar estar, aqui fica também a Igreja Matriz e sua fachada barroca.
Uma rua estreita que cerca as muralhas do castelo, sem que o percebamos de imediato, mostra-nos o Solar dos Castros (hoje Biblioteca Municipal), edifício do século XVII com brasão distinto com dois leões a fazer de tenentes, lojas de comércio e uns edifícios restaurados onde se destacam as suas varandas e decoração mimosa.
Antes de atravessarmos a também estreita linha do comboio observamos o panorama desde o Largo de São Sebastião, onde fica a outra porta do Castelo, a chamada Porta da Traição.
A zona ribeirinha de lazer que nos deixa junto ao Minho é um dos ex-libris de Vila Nova de Cerveira. Os pequenos barcos ancorados transmitem todo o sentimento de tranquilidade que aqui se vive.
Mas é do alto da Serra da Gávea que se percebe em absoluto toda a grandeza desta tranquilidade. Não chegámos até ao topo do Monte do Crasto onde fica a famosa escultura do Cervo, da autoria de José Rodrigues. Ficámo-nos pelo lugar da Capela da Senhora da Encarnação, logo abaixo. Daqui contemplamos o rio Minho a rasgar o verde infinito, deixando umas ilhas pelo meio – a Ilha da Boega, maior, e a Ilha dos Amores, mais pequena – numa paisagem recortada por umas erupções de montes na planura junto à água que corre tranquila alheia a toda esta majestade.