Caminha é a última povoação na linha de defesa do rio Minho. Ou a primeira, para quem entra desde o Atlântico.
É aqui que o Minho desagua no Oceano Atlântico e é aqui que o Coura desagua no Minho. Um estuário largo onde a água impera, mas também o Monte de Santa Tecla já em terras de Espanha, mas apenas à distância de um breve olhar.
Lugar apetecível, este.
Da antiga fortaleza de Caminha, que juntamente com a de Vila Nova de Cerveira, de Valença e de Monção, bem como outros pontos fortificados por esta linha fluvial do Minho, faziam de guardiões da fronteira noroeste de Portugal restam panos de muralha e alguns baluartes e guaritas.
As muralhas datam de diversos momentos ao longo da nossa história: as mais antigas do século XIII, uma segunda linha de muralhas do século XIV e os baluartes e torreões do século XVII. As muralhas que restam estão sobretudo na cabeça de terra de Caminha que vê o Coura a encontrar-se com o Minho. Para lá das muralhas, um espaço de lazer com passeios largos e áreas verdes com vistas privilegiadas abre-se generoso.
A par de Monção, Caminha é a maior das povoações à beira Minho. E, infelizmente, à semelhança de Monção são muitos os edifícios no centro histórico de Caminha a necessitar de reabilitação. As ruas direitas do antigo burgo medieval da terra que viu Sidónio Pais nascer e que numa das suas paredes ostenta hoje um grafitti do ex-cabeleireiro mais famoso do país, António Variações, são fáceis de percorrer mas não deixamos de nos questionar o porquê de tanto abandono.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, pelo contrário, mantém toda a sua beleza e formosura após as obras de requalificação já neste século. Datada do século XV, são visíveis os vários estilos na sua fachada. Gótico, renascentista e os rendilhados que denunciam o manuelino. Destaque para a sua rosácea e logo acima a figura de um carneiro que sustenta a cruz desta igreja.
Do lado contrário do centro histórico fica a Torre do Relógio, antiga Torre de Menagem e porta de saída ou entrada da velha Caminha, conforme a direcção que tomemos. Parte da antiga e primeira muralha, a torre antes designada Porta de Viana, por ser daqui que se saia em direcção a Viana do Castelo, resiste ao tempo como o único torreão do Castelo de Caminha. O relógio que hoje lhe dá nome foi acrescentado em 1673 e por baixo do escudo de Portugal vemos uma imagem em pedra da Virgem da Conceicao mandada lá colocar por D. João IV após a Restauração. Hoje a Torre do Relógio é o Núcleo Museológico do Centro Histórico de Caminha, onde se pode testemunhar a história da vila ao longo dos séculos.
Da Porta abre-se um largo terreiro, hoje o coração de Caminha. Pitoresco e acolhedor, no centro encontramos o Chafariz em estilo renascentista do século XVI da autoria do mestre vienense João Lopes, o Velho, uma combinação de elementos geométricos e figuras mitológicas.
Voltando à água, elemento dominante em Caminha, a Mata Nacional do Camarido serve de transição do rio ao mar. Espaço extenso e denso, depois de atravessado este pinhal mandado plantar por D. Dinis, damos de caras com o Forte da Ínsua, um dos símbolos de Caminha.
Instalado numa ilhota perto da costa já no Atlântico e à entrada do Rio Minho, é possível a ida de barco até às ruínas do Forte para visita ou, para os locais, para a apanha do mexilhão e caranguejo. Inicialmente foi ocupado pelos franciscanos que aí construíram o Convento de Santa Maria da Ínsua no século XIV. Mais tarde, no século XVII, diz-se que com a própria colaboração dos franciscanos foi construída a fortaleza, hoje em ruínas, num lugar que não precisa de justificação do porquê de ser estratégico.
E Caminha é ainda o lugar ideal para se vir por aí abaixo, percorrendo a Costa Atlântica portuguesa, desde esta Ínsua, no Moledo, até ao Cabo de São Vicente, no Algarve. Projecto ambicioso para se ir fazendo aos passinhos.