Na freguesia de Cabeção, em Mora, junto ao seu Fluviário, fica um dos lugares mais recolhidos e tranquilos para se fazer uma caminhada fácil e acessível para toda a família. E caso nem todos os membros da família queiram ou possam caminhar por cerca de 2 horas podem sempre aguardar os demais descansando no areal da praia fluvial do Gameiro, mergulhando nas águas da ribeira de Raia ou desfrutando de uma das várias infra-estruturas do Parque Ecológico do Gameiro.

No verão passado experimentámos a relaxante água da ribeira e escondemos-nos do sol debaixo de uma das idílicas sombrinhas mesmo à sua beira. O sol forte do Alentejo não era então propício a esta caminhada de cerca de 5,5 quilómetros (mais 1 quilómetro com desvio até à torre de observação) pela zona ribeirinha e pela zona do montado do Gameiro. Voltámos agora e, mesmo sem novo mergulho, o passeio encheu-nos as medidas.

O Parque Ecológico do Gameiro foi inaugurado em 2012 e, Fluviário de Mora à parte, a sua grande atracção são os 1,5 quilómetros de passadiços de madeira ao longo da ribeira de Raia. No entanto, podemos continuar por mais um bom bocado junto ao rio, ora envolvidos pelo bosque ripícola ora a céu aberto, antes de empreendermos o caminho de volta mas dessa vez pela zona do montado. Chamam-lhe “Percurso da Natureza” e é disso mesmo que se trata, de um ambiente absolutamente natural onde a acção do Homem é discreta e consegue acrescentar ainda mais beleza ao lugar.

Começámos, então, este nosso passeio por uma jogatana de pingue-pongue com os pés descalços na areia, imaginado que melhor só mesmo tê-los de molho na ribeira. As águas estavam barrentas, mas os reflexos da vegetação na Raia estavam, ainda assim, absurdamente incríveis.


O percurso pelos passadiços é um prazer delicioso, um daqueles em que o mínimo de esforço nos oferece um retorno máximo. A paisagem é serena, com a água e a vegetação numa parceria de sucesso. Pelo caminho vamos encontrando painéis informativos com indicação dos peixes (barbo-comum, perca sol, boga, bordalo) e das aves (garça-branca, garça-real, corvo-marinho, corvo-real, guarda-rios) autóctones, mas também da flora (sobretudo salgueiros e choupos, mas também pinheiros).

O açude do Gameiro vai ficando para trás, mas as cores e os reflexos mantém-se grandes.


A dado momento podemos desviar até à torre de observação, cerca de 400 metros para cada lado, numa das duas únicas subidas dignas desse nome de todo o percurso. Mas vale a pena pelo panorama diferente, altaneiro e por isso mais abrangente, da paisagem alentejana quase a perder de vista.

Há quem não aprecie passadiços, por os considerar intrusivos do meio ambiente natural, mas estes parecem muitíssimo bem integrados, corredores longos que não perturbam a natureza nem nos distraem do essencial.


No final dos passadiços continuamos o caminho por um trilho junto ao rio, desta vez por um curto bosque que nos vai dando umas abertas para as águas castanhas da Raia onde até uns cactos de tamanho generoso têm lugar.


A paisagem abre-se por altura do que é considerada a Pista de Pesca, vêem-se efectivamente uma série de pescadores, e uns metros adiante abandonamos as margens da ribeira para subir (a segunda e última do percurso) em direcção à zona do montado.


A paisagem não é menos bonita. E é sobretudo típica. Estamos verdadeiramente no Alentejo e aqui sentimo-lo bem. O montado é um ecossistema florestal que permite a coexistência de áreas de cultivo e pastoreio juntamente com a preservação dos habitats. Este é um montado de sobro e de azinho, sendo o sobreiro e a azinheira espécies de carvalhos. A cortiça do sobreiro é um símbolo de Portugal e a madeira rija e resistente da azinheira é muito procurada para diversas construções, desde vigas a embarcações ou até barris para envelhecimento de vinhos. Ambas dão como fruto a bolota, servindo esta de alimento para o porco de montanheira, também conhecido como porco preto alentejano – não encontramos porcos mas vimos muito gado bovino. Para além disso, estes montados são dos habitats mais ricos em biodiversidade, acolhendo centenas de espécies de aves que aqui vêm para nidificar.

E, claro, não nos livramos dos clichés pelo que temos de rematar dizendo que descansar à sombra de um chaparro é uma actividade a não perder. Alentejo puro.
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