Um dia destes, um amigo romeno comentava comigo que queria um lugar de floresta longo e plano, sem pedras e rochedos a atrapalhar a vista, para poder estender a toalha e fazer um piquenique, como se vê fazer nas florestas do seu país. Mas que em Portugal não o encontrava. Fiquei a pensar e, realmente, tirando breves espaços junto a rios ou longos areais junto à costa, não haverá muitas opções para o fazermos sem declives e rochas pelo caminho. O nosso país é acidentado e pedregoso. E, demorei-me mais um pouco a pensar, as rochas são lindas. Rochas, rochedos, pedras, fragas, penhascos, penedos, são tantas as palavras para significar uma paisagem natural. Eis 10 paisagens de rocha humanizadas cheias de significado e ambiente espalhadas por Portugal.

– Sirvozelo, em Montalegre, é uma aldeia instalada no meio de enormes blocos graníticos, alguns deles a fazer de parede das casas. À beira da Albufeira da Paradela, a ruralidade e rusticidade, a par dos penedos, são presenças esmagadoras nesta que é uma das aldeias mais incríveis do Gerês.

– os Abrigos de Pastores são comuns no Gerês e as suas características únicas. São pequenas construções de pedra, dispostas sem preocupações de perfeição, toscas até. Com portas baixas, o homem tem de se curvar à entrada e o gado fica à porta. A cobertura é igualmente simples e o chão ou de terra ou com algum mato para que o pastor possa descansar durante a sua estadia temporária. Este exemplo é delicioso na sua forma e aproveitamento do penedo.

– a Pedra Bolideira, no concelho de Chaves, é o exemplo mais curioso dos muitos blocos graníticos da região. Assente numa outra, esta é uma enorme pedra – 10 metros de comprimento por 3 de altura – que parece ter sido partida ao meio, como se de um pão para partilhar se tratasse. Mais curioso do que a sua forma é o facto de, apesar do seu peso de várias toneladas, ser capaz de ser movida com um empurrão por parte de qualquer pessoa.

– a Casa do Penedo, entre os concelhos de Fafe e Celorico de Basto, é uma das casas mais surreais. É fácil imaginar que os Flintstones teriam vivido nela se tivessem passado por Portugal. Instalada desde 1974 num ponto isolado na Serra de Fafe, está aninhada entre penedos de forma tão brilhante que já não percebemos o que é rocha e o que é casa. Ou seja, uma perfeita integração com a natureza.

– a Capela de Nossa Senhora da Lapa, em Vieira do Minho, é um mimo. Uma capela com chapéu, no caso um enorme bloco granítico a que não falta uma cruz. Conta a lenda que uma imagem de Nossa Senhora da Lapa terá aparecido a uma pastorinha na gruta por debaixo desta rocha. E assim o monte do Penamourinho se tornou lugar de romaria e peregrinação e em 1964 foi construída esta capela, provavelmente das mais surpreendentes no nosso país.

– a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, Matosinhos, é um dos projectos mais acarinhados de Álvaro Siza Vieira. Tirando partido da pujança natural do lugar, junto ao mar da Boa Nova, foi construído este edifício sobre as pedras na década de 60 do século passado. Melhor dizendo, escondido entre as pedras, ora se deixando ver ora se fazendo difícil de descobrir. Hoje já não é uma casa de chá, passou a restaurante com estrela Michelin, mas a esmagadora maioria dos que a procuram é para apreciar esta pequena maravilha da arquitectura em parceira com a natureza.

– o Castelo de Moreira de Rei, em Trancoso, hoje em ruína, está instalado no topo de um afloramento granítico e terá origem muito remota, no tempo dos lusitanos ou dos romanos. Do lugar disse Alexandre Herculano ser uma “espécie de ninho de águias sobre um montão de rochas”. Rochas formosas, é do que se trata, fortalezas naturais que ainda ali andam a ligar alguns panos de muralha. A atmosfera é incrível, incluindo uma vista larga e soberba.

– Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova, é unanimemente considerada uma das aldeias mais bonitas de Portugal. Merece todos os elogios. É um deleite caminhar pelas suas ruinhas estreitas e inclinadas. Mas o maior prazer é descobrir a enormidade e variedade das rochas que parecem ali ter sido semeadas. Umas parecem lá estar só para tornar o cenário ainda mais grandioso, mas outras servem mesmo de habitação para as suas gentes.

– as Pedras Irmãs, em Sintra, é um lugar misterioso e cheio de atmosfera, completamente envolvido na vegetação frondosa da serra. Aqui temos um parque de merendas para melhor desfrutarmos de mais um momento alto junto da natureza em estado bruto.

– as Piscinas Naturais do Porto Moniz, na ilha da Madeira, são (mais) um deslumbre à beira do Atlântico. De origem vulcânica, as rochas da lava escura e a água transparente que entra de forma natural desde o mar, rodeando-as, são a imagem de marca da paisagem, entretanto adaptada pelo Homem para servir de complexo balnear. Um pedaço selvagem e tranquilo ao mesmo tempo.

– o Penedo do Guincho, em Santa Cruz, é o único destes exemplos que não foi objecto de qualquer humanização. O que não quer dizer que não tenha sofrido transformações ao longo dos tempos. Esta enorme e belíssima rocha já esteve ligada à arriba, mas a erosão fez com que se libertasse e se mantenha hoje solta e isolada, reclinada sobre o mar.
Gostei muito!
As Pedras Irmãs, em Sintra, são onde? Na Peninha?
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Sim, as Pedras Irmãs estão pouco antes de se chegar ao estacionamento que dá acesso à Peninha.
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Obrigada!
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(…) um artigo sui generis destacando a beleza das rochas e como ornamentam os lugares deste país e muito ilustrado de excelente fotos.
Obrigado
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