Até 25 de Novembro de 2022 estará patente no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa, uma exposição que nos faz viajar pelas riquezas naturais de Portugal, enriquecendo os nossos conhecimentos sobre o território que habitamos e com quem o partilhamos. Variações Naturais – Uma Viagem pelas Paisagens de Portugal, assim é a designação desta autêntica visita guiada, uma organização conjunta da Câmara Municipal de Lisboa, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e da Universidade de Lisboa (Museu Nacional de História Natural e da Ciência e Faculdade de Ciências), integrada na Lisboa Capital Verde Europeia 2021.

Partindo da sentença de Álvaro de Campos, segundo a qual “Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir”, o “passeio impossível” que é aqui oferecido propõe-se a fazer-nos experimentar uma série de sensações de interacção com o meio ambiente, incentivando-nos a não nos ficarmos por aqui, antes a irmos Portugal afora, indo ao encontro de outra sentença de outro dos nomes maiores da nossa literatura, José Saramago: “Tanta paisagem. Um homem pode andar por cá uma vida toda e nunca se achar, se nasceu perdido.”.
Tendo por base a evidente diversidade e riqueza de paisagens, elementos naturais e culturais do nosso país, cortesia do clima, geologia e relevo, Portugal é-nos apresentado de uma forma sensorial, focando as principais paisagens e áreas protegidas nacionais. Enquanto caminhamos lado a lado com alguns dos exemplares mais significativos da nossa fauna e flora, vemos aqui representados diversos ecossistemas e é simulada a subida a uma montanha, a descida a uma gruta e um mergulho no oceano. Tudo isto sob o chilrear dos passarinhos, o assobio do vento, o estrondo dos trovões ou o zunir da chuva.

O primeiro espaço começa por lembrar a nós, citadinos, que “não estamos sós: há mais vida na cidade” e que as cidades vão nascendo e crescendo, enchendo-se de construções, e a natureza vai regredindo, mas não desaparece. E para além dos humanos habitantes há outros habitantes não humanos que tentam resistir e adaptar-se ao ambiente alterado pela reduzida vegetação, poluição atmosférica, barulho e luz artificial: morcegos, pardais, pombos, baratas, lagartixas.

Segue-se um espaço dedicado às montanhas. Mais ou menos próximas do mar, mais ou menos húmidas, de diferentes tipos de rocha, de climas variados, não há duas montanhas iguais, logo, os seus habitats são igualmente diversos. Alguns elementos são recriados: vê-se um bufo real, um logo ibérico e um fojo, uma armadilha que é um testemunho da relação do homem com o lobo. E um vídeo junto a ele desmistifica a ideia de que a espécie ataca humanos, pelo contrário, as suas presas naturais vão escasseando e é obrigada a aproximar-se cada vez mais das zonas urbanas para sobreviver, atacando rebanhos.


Uns enormes painéis com imagens em vídeo, quase nos fazendo entrar tela adentro, provocam em nós o desejo de tornarmos-nos parte da paisagem.

Hão de vir os rios e as espécies que os habitam – variando por características tão simples como a inclinação do terreno ou a estreiteza das margens por onde o rio corre, tornando a corrida das suas águas mais ou menos rápida. Aos elementos junta-se lhe sempre um mapa de Portugal informativo com as áreas protegidas e os lugares mais característicos a visitar.

E se não sabíamos ficamos a saber que, para além do Sporting, há verdes para todos os gostos no nosso país. Quase 70% do nosso território é feito de carvalhais, bosques e matos, montado, estepes e planícies de cereais. Vários climas levam a diferentes tipos de vegetação que, por sua vez, trazem diversos tipos de animais. E a floresta, para além dos animais, é habitada por plantas, líquenes, musgos e fungos, ajudando-nos esta exposição a identificá-los.

Quando chegamos ao espaço dedicado às rochas é reproduzida uma gruta, “Austeras catedrais, rijos calcários. De luzentes vitrais golpeando o espaço”, nas palavras de Manuel Vaz de Carvalho.

Não falta sequer a representação de um montado, o ecossistema exclusivo do Mediterrâneo que não existe sem o Homem: são o pastoreio e as actividades agrícolas que o mantém. Vê-se uma azinheira com um javali, mas é o sobreiro o personagem principal do montado português, aquele que através da extracção da sua cortiça faz de Portugal o maior exportador a nível mundial deste material que é utilizado em várias indústrias.

Passamos por um louva-a-deus, o pequeno insecto tão temido na minha infância de veraneio vivida junto aos pinheiros. E passamos por uma zona de paul, por um estuário, por um flamingo, por uma salina, por uma zona dunar e por uma costa rochosa com falésia e escarpas, “condomínios em altura”, vítimas de erosão.

E daqui partimos à descoberta dos oceanos com um mergulho no mar: os oceanos cobrem mais de 70% do nosso planeta e contém a maior diversidade de vida na Terra. Uma enorme baleia suspensa no ar domina a sala onde é apresentado um novo vídeo onde apetece ficar a vê-lo. Não podíamos percorrer Portugal sem entrar nas nossas ilhas, umas “fábricas de fazer espécies”.
E terminamos esta incrível viagem simulada com mais uma citação que nos insta a sairmos para a viagem real: “Eu ando a pé: penso com mais velocidade” – Maria Gabriela Llansol.