De Tbilisi saímos rumo ao Azerbaijão, com uma paragem em David Gareja pelo caminho, um conjunto monástico de casas nas rochas.
A estrada à saída de Tbilisi não é má, é até uma espécie de autoestrada por alguns quilómetros como ainda não tínhamos visto até aí. Mas as vacas, já nossas conhecidas, mantém-se por perto.
Atravessamos parte da província de Kakheti, a mais antiga região do mundo onde se produz vinho, tendo sido encontradas evidências que levam a datar a produção do vinho na Geórgia até há 8000 anos.
Até que fazemos um desvio à estrada principal em direcção a David Gareja e voltamos às distâncias curtas percorridas em tempos longos. A estrada pode ser uma lástima, mas a paisagem volta a ser uma beleza. Parece que para alcançarmos os locais mais bonitos no Cáucaso temos sempre de ter como contrapartida o desconforto físico na viagem. Nada é de graça. Mas vale bem o preço.
A paisagem vai variando entre os mantos verdes rasteiros e a aridez desértica. Chega a fazer crer que estamos na lua.
David Gareja é um conjunto de mais de uma dezena de mosteiros dispersos por uma área muito longa que se estende até ao Azerbaijão. Os dois mosteiros mais acessíveis, o Lavra e o Udabno, ficam em território da Geórgia, mas caminhando entre eles colocamos inevitavelmente pelo menos um dos pés no Azerbaijão. A fronteira não está rigidamente delimitada, vendo-se apenas uns pequenos pilares.
Fundado no século VI por David Gareja e outros padres sírios missionários vindos da Mesopotâmia com o objectivo de propagarem a fé cristã pela Geórgia, a maioria das estruturas monásticas foram vítimas ao longo dos séculos da destruição por parte dos mongóis, de Timur e dos soviéticos. Há muito que foram abandonadas. Mas permanecem como um dos sítios históricos mais incríveis do país.
Ao mosteiro Lavra acede-se logo à entrada do complexo. Decorrem obras de restauro, mas podemos visitar a sua igreja, o seu pátio com romãs e apreciar a arquitectura do lugar, mais concretamente as covas cravadas na rocha que serviam de celas aos monges.
Para conhecer Udabno temos de subir a encosta, o que não é de todo fácil pelo piso escorregadio e pelo calor. É a tal subida que nos leva ao Azerbaijão, embora não exista aqui fronteira oficial, pelo que não podemos passar de um país para o outro neste local (na verdade temos de o fazer muitos quilómetros de estrada e horas de tempo longe dali). Veem-se os polícias de fronteira armados. Intimida, mas depois percebemos que eles são capazes de pousar as armas para beber um gole de água como nós.
Udabno é a cidade das cavernas que buscávamos. São várias covas na montanha, um lugar remoto e inóspito pela aridez. Mas essas grutas possuem um rico património no seu interior. Os seus belos frescos chegaram até aos nossos tempos com integridade suficiente para os podermos apreciar. Os mais antigos são datados do século IX, mas a maioria são dos séculos XI a XIII e reflectem bem a grandeza da escola de frescos que aqui floresceu em tempos.
Deixamos David Gareja e preparamo-nos para deixar a Geórgia. O português mais conhecido aqui, ao contrário de na velha Arménia, não é Luís Figo. É Cristiano Ronaldo. Por uma vez sinto orgulho por Portugal ser conhecido por este mundo fora pelos seus futebolistas. E apesar de termos conhecido muitos georgianos simpáticos pela viagem não resisto a chegar ao fim destes textos sobre a Geórgia sem informar que a Geórgia é o país onde nasceu o Zé dos Bigodes, o infame camarada Estaline. Sorte a nossa que temos o Cristiano.