A Adega Mayor é mais uma das maravilhas arquitectónicas com que Siza Vieira nos tem brindado. Desta vez a responsabilidade não é só do arquitecto. O comendador Rui Nabeiro sonhou e Siza vez acontecer.
Esta adega plantada no meio de um montado alentejano junto a Campo Maior é pura emoção.
Com uma pré-marcação é possível fazer-se uma visita guiada à Adega Mayor. A visita inicia-se com um breve vídeo sobre as origens desta ideia e, acreditem, esta história simples de um sonho tornado realidade fez com que as lágrimas me viessem aos olhos. Não é tanto a história em si que é tocante, antes a bela parceria Homem-Natureza que vamos vendo desfilar em imagens de todos os ângulos possíveis, incluindo o aéreo, onde se percebe na plenitude os contornos deste projecto.
Sendo esta uma adega é de vinhos que se trata o tal sonho do comendador. Não sendo entendedora nem sequer consumidora, resta-me dizer que para a sua integridade contribui o facto de eles serem criados próximo ao clima temperado da Serra de São Mamede e aos seus solos graníticos.
Vamos, então, aos elementos decisivos desta emoção.
Primeiro a localização. Às portas de Campo Maior, junto à fábrica da Delta e ao Centro de Ciência do Café, a Adega Mayor ocupa cerca de 350 hectares de campos agrícolas e montado de azinho desde 2007. Com excepção daqueles edifícios industriais, poucos mais se percebem à volta, a não ser pequenas construções de apoio rural. É isto que é tão cativante neste projecto, a sua implantação na ruralidade, aproveitando todas as potencialidade do lugar. Cercam-no vinhas e mais vinhas, de cores variadas, uma paleta perfeita acrescentada às poderosas cores do Outono. Em meados de Novembro viam-se e ouviam-se os homens a cortar as vinhas, compondo este quadro perfeito.
Depois a arquitectura. A primeira adega de autor em Portugal é um projecto que tem a marca inconfundível de Siza Vieira: as linhas direitas e elegantes, a cor branca, uma simplicidade notável. Poder-se-ia dizer que este edifício caiu ali de pára-quedas. Mas não. Tudo aqui faz sentido e mostra-nos como é (parece?) tão fácil integrar uma peça arquitectónica num meio rural.
À primeira vista é o exterior do edifício e sua envolvente que nos seduzem. Mas o seu interior é também ele uma obra de arte em que tudo foi pensado para atingir a excelência no propósito de fazer um bom vinho. Sim, não nos podemos esquecer que este edifício é muito mais do que um belo boneco. Ele é, antes de tudo, uma adega. E para isso Siza pensou e executou os espaços para acomodar a transformação das uvas e o armazenamento das barricas sem recorrer às costumeiras caves. Não há aqui pisos enterrados e a manutenção de uma temperatura e humidade ideais para a conservação do vinho foi alcançada à conta da escolha dos materiais das salas. Para isso, decisiva foi também a opção por um espelho de água no terraço que permite que a sala que lhe está abaixo mantenha sempre a temperatura desejada.
O terraço da Adega Mayor é provavelmente o espaço mais deslumbrante deste edifício, como que um prolongamento até ao infinito da planície alentejana. Por sorte, pude visitá-lo ao pôr-do-sol e face a tamanho cenário as palavras perdem sentido.
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