Castelo de Ouguela

Um dia destes torno-me sócia da Associação dos Amigos dos Castelos. Castelos, fortes e fortalezas, quanto mais distantes e abandonados, melhor. Sou capaz de fazer desvios de dezenas ou centenas de quilómetros só para os conhecer.

Ouguela, por exemplo, fica lá longe, já a riscar a linha de fronteira com Espanha. Mas como está ali, temos de o conhecer. Valha a verdade, as estradas do Alentejo, nomeadamente a caminho de Campo Maior, são um prazer de ser percorridas. Não é preciso ser-se nenhum Fitippaldi para se conduzir aqui. Rectas a perder de vista, estradas sempre planas, paisagem plácida, vacas e bois a pastar por entre as ovelhas, a planície alentejana é beleza pura. As cores do Outono mais não fazem do que adornar este cenário do montado alentejano.

A antiga Praça Forte de Ouguela fica a cerca de 10 quilómetros de Campo Maior. É uma excepção à planura da região próxima, mas não muito. Instalada no cimo de um cabeço rodeado por campos de oliveiras, esse monte tem apenas 259 metros de altitude.

Não são certas as origens de Ouguela. Crê-se que tenha sido um povoado proto-histórico que acabou por ser romanizado e mais tarde transformado numa fortaleza islâmica. Passou para o domínio cristão e fez parte do Reino de Leão e Castela na sequência da Reconquista Cristã da Península Ibérica. De Espanha resta hoje a vista cercana, ali à distância de um esticar de braço. D. Dinis acabou por integrar Ouguela no reino de Portugal em 1297, tendo-lhe concedido foral no ano seguinte. Desde aí Ouguela desempenhou um papel importante ao longo da história, sobretudo como parte da primeira linha de defesa da raia alentejana, a par das fortificações de Elvas, Campo Maior, Olivença e Juromenha (esta última, a minha preferida). Mas acabou por perder relevância militar e foi vítima do abandono da sua população. Uma quadra, irónica, canta o seguinte:

Adeus vila de Ouguela / Que não há vila mais nobre / Para teres vinte ruas / Faltam-te só dezanove

Ouguela, nos seus tempos de grandeza, terá passado dos 600 habitantes. Hoje não são mais de 60, distribuídos pelas casas extra-muralhas (a maioria) e por aquelas intra-muralhas.

Parte das muralhas e torreões da histórica vila insistem em manter-se de pé, porém. O seu traçado medieval também se mantém. Por altura da minha visita, intensas obras decorriam, quer no exterior das muralhas quer no interior do castelo. O terreiro estava todo revolvido, ao que parece para remodelação da conduta da água.

Mas para aí entrarmos temos de atravessar as duas portas em arco do castelo, encimadas por umas bonitas e ainda perceptíveis decorações do brasão de armas local. Após um percurso não linear junto às paredes da muralha, quase labiríntico, chegamos então à antiga praça de armas, o tal terreiro em obras. Ao centro, um poço correspondente à antiga cisterna permite ainda hoje aos habitastes retirar água. As suas poucas casas são brancas, com portas verdes, e com telhados ocres, como é da praxe alentejana.

As chaminés possuem um formato curioso, sendo altas e estreitas. Subimos às muralhas através de umas escadinhas que mais parecem propriedade privada. A muralha não está toda intacta, mas podemos caminhar sobre ela.

As vistas para a planície alentejana são soberbas. Daqui de cima uma tranquilidade imensa invade-nos. O antigo castelo era envolvido por um fosso a toda a volta, protegendo e isolando a então vila de Ouguela. Hoje Ouguela é apenas lugar, até o estatuto de freguesia perdeu, mas o seu isolamento dá-lhe um carácter especial.

Ao longo dos séculos o Castelo de Ouguela foi sofrendo alterações, por forma a adaptá-lo às exigências militares de cada época. O casario que chegou aos nossos dias data do século XVIII, incluindo a alvíssima Igreja de Nossa Senhora da Graça, interessante contraste com os tons da pedra da muralha.

Em 1840 a praça-forte de Ouguela foi desmilitarizada e desde aí, mais acentuadamente, vive num sono quase profundo, talvez triste para quem ainda ouve recordar os seus tempos áureos, mas mágico para quem a visita.

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