Tenochtitlán, a Cidade do México pré-hispânica

Não fosse já a Cidade do México suficientemente rica e interessante em história e atracções, há apenas 41 anos, em 1978, foi descoberta de forma fortuita a cidade antiga de Tenochtitlán. E onde, exactamente, se situava essa cidade pré-hispânica? Nada mais nada menos onde é hoje o Zócalo. Ou seja, os espanhóis chegaram, derrubaram os mexicas, destruindo a cidade deles e construindo a sua nova cidade precisamente em cima da antiga. Mais, utilizaram para os seus edifícios a pedra dos edifícios destruídos.

O Templo Mayor da antiga Tenochtitlán fica, então, mesmo ao lado da Catedral. Não temos no local uma grande percepção da antiga Tenochtitlán – ao invés, o Museu de Antropologia é fantástico nesse sentido – e os trabalhos arqueológicos continuam e a cada momento são descobertos novos dados que permitem perceber melhor aquela civilização.

Tenochtitlán constituía para os mexicas, termo mais correcto do que aztecas, o centro ou umbigo do mundo. Antes da chegada ao que é hoje a Cidade do México, porém, o povo mexica era nómada e andaria em migração há mais de 200 anos até ao momento da aparição de uma águia, representante do Deus solar Huitzilopochtli (o seu Deus principal), sobre um nopal (planta do cacto) a devorar uma serpente no meio de uma lagoa que lhes indicou onde deveriam assentar definitivamente. Isto passou-se em 1325 e a lenda da fundação da antiga Tenochtitlán é hoje imagem da bandeira do México, a águia pousada no nopal agarrando a serpente.

Os mexicas assentaram então a sua cidade em ilhas lodosas de numa lagoa rodeada de pequenos vulcões. Hoje não se vê qualquer lago mas os vulcões continuam presentes na paisagem. Foi mais fácil aos espanhóis construírem sobre a água do que arrasarem os vulcões. O que acontece é que essa decisão tomada no século XVI de construir uma cidade sobre a água tem ainda hoje, no século XXI, consequências terríveis nas frequentes inundações e os vulcões lá continuam a prover a cidade de terramotos igualmente frequentes.

A zona arqueológica do Templo Mayor e museu adjacente conservam in loco restos do principal edifício mexica, precisamente o Templo Mayor, e outros que formavam parte do centro cívico cerimonial desta cidade.

Este lugar era um espaço sagrado, o tal umbigo do cosmos, do qual partiam as quatro calçadas que planificavam a cidade e que por sua vez representavam simbolicamente os rumos do universo. Aqui se reunia o povo mexica para participar nas cerimónias políticas e religiosas mais importantes. O Templo Mayor mostrava a visão dual sobre o cosmos e era uma imagem do império, o qual foi crescendo à medida que Tenochtitlán ia ganhado poder. A sua época de maior esplendor deu-se no século XV.

A cosmovisão dos mexicas baseava-se na terra, habitada pelo Homem num ambiente natural rodeado de plantas e animais, todos vivendo num lugar central. Sobre este encontrava-se um plano celeste e, por baixo, o inframundo. A dualidade foi o fundamento em que os mexicas se apoiavam para explicar e ordenar o cosmos, entendendo ser este composto de forças opostas e complementares, as quais necessitam umas das outras, pois ao encontrarem-se dariam lugar ao movimento. Exemplificando, o sol destrói a escuridão e a lua traz de novo a noite.

Crê-se que o Templo Mayor fosse sendo ampliado a cada determinado tempo, construindo-se a cada vez uma pirâmide sucessivamente maior do que a anterior como forma de demostrar a grandeza e riqueza dos novos senhores.

Ou seja, apesar de não se perceber com clareza no local, havia aqui um edifício sobre uma grande plataforma, as famosas pirâmides imagem de marca de quase todos os sítios arqueológicos no território do México. Deste grande edifício e da cidade de Tenochtitlán como um todo restam, assim, poucos vestígios. Mas dos que se têm vindo a descobrir, sobreviventes da invasão e destruição espanhola por parte de Hernán Cortés, e com base nos relatos das crónicas da sua armada, crê-se que a pirâmide do Templo Mayor terá medido 84m por 77m e terá tido uma altura de 45m. Por comparação, a Pirâmide do Sol de Teotihuacán possui de altura 66m, a Catedral Metropolitana 60m, a Pirâmide de Chichén Itzá 30m, o Partenón 14m e o Coliseu de 48,5m.

Como curiosidade, diga-se que os mexicas desenvolveram a partir do século XIV um sistema de cultivo em cima da água, através de canais de irrigação e um sistema de chinampas que ainda hoje se vê em Xochimilco. O milho era já na época – foi sempre? – a alma do povo, o alimento mais importante, facto bem expresso no dito mexicano “sin maíz, no hai país”.

E porque é que Tenochtitlán caiu tão facilmente às mãos dos espanhóis em 1521, ela que à sua chegada era maior do que qualquer cidade espanhola dessa época? A historiografia e os mexicanos em geral não se põem de acordo acerca do papel que Moctezuma II teve à chegada do invasor espanhol, Hernán Cortés. Diz-se que Moctezuma acreditava ser Cortés o Deus Quetzalcoatl (a serpente emplumada) e por isso não só o deixou aproximar e recebeu-o bem como deixou-se levar pelas suas exigências. Acabou feito prisioneiro e até hoje se discute se reagiu ou acabou morto sem defender o seu povo.

Por isso, para uns (maioria) Moctezuma II é uma figura não grata e Cuauhtémoc, seu sobrinho e sucessor, um herói por ter lutado contra os espanhóis até à morte.

Mais do que no Templo Mayor – embora aqui se percebam alguns elementos decorativos e no ano passado tenha sido encontrado um muro com fragmentos de crânios – é no Museu de Antropologia que estão reunidos os objectos decorativos mais incríveis desta civilização mexica, bem como maquetes recriando-a.

Entre as diversas soberbas esculturas e recipientes cerimoniais, a Pedra do Sol é a peça mais emblemática. À semelhança dos outros povos pré-hispânicos, os mexica prestavam culto ao sol, considerando que a luminosidade e o calor do sol significava vida. Assim, a Pedra do Sol servia como altar que sustentava a luta dos guerreiros nas cerimónias de sacrifício. A figura do desenho deste disco é a de Xiuhtecuhtli, o senhor do fogo que presidiu ao nascimento do sol.

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