Oaxaca é o nome do estado mais indígena do México e aquele que mais preserva as suas tradições ancestrais. E é também o nome da sua capital, provavelmente uma das cidades mais carismáticas e turísticas do país e distinguida pela Unesco como património mundial.
A diversidade do estado de Oaxaca manifesta-se na sua cultura, com uma série de etnias, mas também na sua geografia. Chegando de avião percebemos melhor os seus vales cercados de montanhas verdes. Mas mesmo caminhando pela cidade vemos que as montanhas nos rodeiam. Quando pretendemos sair dela por carro, então, nem se fala. Ou seja, Oaxaca está implantada num desses vales.
O seu nome deriva do nahuatl huaxyácac que significa “no nariz da abóbora”. Quando os espanhóis aqui chegaram e fundaram a sua cidade em 1529 chamaram-lhe Nova Antequera, mas após a independência do México o seu nome passou para Oaxaca. Em 1872, morto Benito Juaréz, um indígena nascido num pueblo local que veio a ser presidente da República por 14 anos e se tornou num dos mais considerados e amados políticos da nação, a cidade passou à actual Oaxaca de Juaréz. Curiosamente, Porfirio Díaz, outro oaxaquenho, ocuparia o mesmo cargo pouco depois e tornar-se-ia o ditador que por mais de três décadas governou o país. O porfiriato gerou tal descontentamento por parte da população que desencadeou as lutas pela Revolução Mexicana, cujo líder mais popular para nosotros, gringos será Emiliano Zapata – que não era de Oaxaca, mas entra na nossa história para gritar Viva Zapata!, relembrando John Steinbeck, Elia Kazan e Marlon Brando.
Planeámos a nossa estadia em Oaxaca há uns meses largos e só mais tarde – talvez quando tentámos perceber o porquê do preço do alojamento ser estupidamente caro – reparámos que iria coincidir com o Guelaguetza, um dos maiores festivais do México, conhecido por ser um país de fiesta permanente. A tal ponto que Octávio Paz, o seu Nobel da Literatura, dizia que “a arte da festa pode ter-se degradado em todo o lugar, mas não no México”. Ou seja, o entusiasmo tomou conta de nós.
O primeiro dia pelas ruas de Oaxaca foi fantástico, colorido, animado. Ao segundo pensámos que seria giro se conseguíssemos apreciar um pouco mais sossegadamente o ambiente colonial das ruas e edifícios. Ao terceiro dia lamentámos, definitivamente, não podermos levar uma imagem do Zócalo com menos de mil pessoas ali entulhadas.
De qualquer forma, poder partilhar a cidade com os diversos oaxaquenhos que para aqui vêm no Guelaguetza (ver post seguinte) mostrar a sua cultura e tradições foi uma oportunidade única e muito bonita.
Comecemos este périplo por Oaxaca pela Igreja de Santo Domingo, o mais belo e rico templo dominicano que alguma vez vi. A sua fachada barroca é até equilibrada e esconde o deslumbre que é o interior hiper decorado, não apenas os altares, mas toda a igreja, incluindo paredes e tectos, cortesia dos melhores artistas da época da sua construção, no século XVI.
Esta era a igreja do antigo Convento de Santo Domingo, hoje transformado em Museu das Culturas de Oaxaca. Há que demorar-nos a conhecer as múltiplas salas deste museu, instaladas nas antigas celas dos dominicanos, e, assim, a história da cidade e da região.
Ainda no Convento, os claustros e as vistas que as suas varandas proporcionam são uma beleza à parte. Sobretudo esta última, com um cenário de cortar o fôlego para as montanhas que cercam a cidade, com as suas formas poderosas mas ternas ao mesmo tempo.
E lá em baixo fica o Jardim Etnobotânico, antiga horta do Convento. A visita a este jardim é apenas efectuada em determinados horários e com um guia (prevê-se que em breve possa vir a ser de visita livre, embora igualmente paga). Os poucos horários disponíveis para a visita não devem deter-nos, uma vez que este é um dos mais fantásticos locais que a cidade tem para oferecer. A ideia do jardim tem vindo a ser posta em prática a partir de 1998, quando se começaram a plantar plantas de todo o estado, neste que é o estado do México com mais espécies. E porque as plantas escolhidas para aqui serem representadas possuem também um significado cultural, eis o nome do jardim: etnobotânico. Vemos muitas espécies diferentes, incluindo os omnipresentes cactos, sempre num ambiente exótico, incluindo o pequeno lago com os reflexos irreais das plantas.
A Calle Macedonio Alcalá segue do Convento de Santo Domingo à Catedral no Zócalo. Rua pedonal, de um lado e do outro desfilam os edifícios coloridos coloniais que fazem também a fama de Oaxaca. Igualmente, nas ruas que lhe são paralelas e perpendiculares descobrimos muitos pormenores de encantar, seja uma cor diferente, uma janela decorada com flores ou uma janela que de tão longa mais parece uma porta, até um grafitti perdido numa parede.
A arte é uma constante na cidade. Existem inúmeras lojas de artesanato – cerâmica e têxteis como elementos fortíssimos -, galerias e espaços culturais e museus. Exemplos? O Instituto de Artes Gráficas com o seu mimoso pátio, o Museu Arte Contemporâneo, o Museu dos Pintores Oaxaquenhos e o Centro Cultural San Pablo (primitivo Convento Dominicano).
O Zócalo, já se disse a começar, ficou-nos marcado pelos magotes que o Guelaguetza traz a Oaxaca e que optam por se concentrar maioritariamente na praça central da cidade. Ainda assim, deu para sentir que é uma praça bem bonita, Catedral de um lado, Palácio do Governo do outro, jardim com árvores pelo meio, edifícios com arcadas nas laterais.
A gastronomia de Oaxaca é um atractivo por si só. Experimentámos a comida de rua e a comida dos seus restaurantes da moda, que mesclam os modos de fazer tradicionais com uma re-interpretação mais moderna, mas utilizando os ingredientes de sempre. Os chapulines, espécie de gafanhotos, são um exemplo disso, vendidos quer nos mercados e nas ruas quer servidos à mesa pelos chefs.
Oaxaca é a “terra dos sete moles”. São sete as variedades de mole, cada um com a sua cor, o molho que, conta-se, é feito da mistura de 28 ingredientes, entre os quais o chocolate e o chili.
O mole pode ser o que distingue a comida de Oaxaca, mas nomes e sabores como os dos tamale, quesadilla e tlayuda não passam despercebidos. Quanto a bebidas, para os que não bebem álcool, o tejate é uma opção ao incontornável mezcal, parte da identidade de Oaxaca que se guia pelo dito: “para todo o mal, mezcal; para todo o bem, também”.
O Mercado 20 Novembro, igualmente conhecido como “mercado da comida”, ao lado da confusão esperada e desejada do Mercado Benito Juaréz, é o lugar para se experimentar o tasajo, bife na grelha do qual só sentimos a intensa fumarada, e as águas de sabores da intemporal Casilda.
Já nas ruas, há que provar uma nieve, o gelado local, antes de subir à esplanada de um rooftop. Apesar de nos ter tocado chuva inclemente com hora marcada, sempre ao final da tarde, ainda conseguimos sentir o ambiente altaneiro de terraços como o do Pitiona, Los Amantes e Casa Oaxaca, todos eles escolhas acertadas para nos despedirmos de Oaxaca.
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