Quinta dos Azulejos

O Paço do Lumiar está ainda, neste primeiro vinténio do século XXI, cheio de quintas centenárias, daquelas que serviam de recreio às portas de Lisboa aos bem instalados no tempo da realeza, a maior parte delas desconhecidas dos lisboetas. Também conhecida por Quinta dos Embrechados, foi fundada na primeira metade do século XVIII por António Colaço Torres e frequentada pela família real e é um bom exemplo deste património.

Quando chegamos ao largo onde está instalada percebemos de imediato o palacete, hoje transformado em Colégio Manuel Bernardes, totalmente revestido a azulejos de um tom azul convidativo. O que não imaginamos é o que o seu jardim interior esconde.

O jardim da Quinta dos Azulejos é um espaço verde pequeno. Protegido por muros altos, tem a forma quadrangular, cortado a meio por um caminho, e podemos adentrar pelo jardim de buxo e nele encontrar dois bustos escultóricos em homenagem a vultos importantes na fundação e direcção do colégio. Mas não são nem estes nem as plantas que nos chamam a atenção, antes os seus inúmeros e deliciosos painéis azulejares que dominam por completo os nossos sentidos.

O interior dos muros do jardim está quase totalmente revestido a azulejos. Houve várias campanhas de decoração da Quinta ao longo dos tempos, mas a primeira delas datará de 1745 – 1755, o que coincide com a laboração da Real Fábrica de Faianças do Rato, pelo que se tem como assente que foi nesta que se produziram as mais antigas cerâmicas que ainda nos dias de hoje podemos observar. O Grande Terramoto de Lisboa veio logo depois e alguns desses azulejos conseguiram sobreviver-lhe.

Os azulejos policromo, mas com destaque para o azul e branco, da Quinta dos Azujelos mantém-se, em grande parte, bem conservados e revestem ora os muros, ora as colunas, os bancos, os canteiros e as fontes do jardim. São de uma beleza e variedade temática ímpar. É como se nos contassem histórias com recurso a cenas quotidianas, mitológicas ou religiosas. Admirando-os, vemos um desfile de cenas de festas, galanteio, passeios, caçadas e motivos bíblicos decorados ao gosto rococó. Pessoas, animais e seres mitológicos estão representados.

Como Ícaro a cair depois das suas asas terem disso derretidas pelo sol; ou as sete irmãs plêiades; ou Narciso que morreu apaixonado pela contemplação da sua própria beleza e assim se viu transformado numa flor; ou a sua amada mas desprezada ninfa Eco.

São várias as fontes no jardim da Quinta com falsas cascatas e interior revestido a embrechados, uma logo à entrada, outras duas em cada um dos flancos e uma outra junto ao caramanchão.

O caramanchão coberto de plantas que conferem maior protecção e recato ao banco corrido com colunas sob ele é o momento mais bonito do jardim. O lago diante de si está vazio mas isso não retira um pingo de encanto a este espaço.

Há que continuar a apreciar cada figura e cada detalhe, e deixar-nos esquecer do tempo num espaço tão curto.

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