A Eslovénia é formalmente um país recente. Até há pouco mais de 30 anos era uma das nações que compunham a Jugoslávia, um caldeirão que implodiu e nos deu uma série de novos países que hoje não apenas compõem a Europa como até a União Europeia. A Eslovénia foi a primeira das repúblicas da ex-Jugoslávia a ter eleições livres e a separar-se, em Junho de 1991, e a primeira a entrar na União Europeia, em 2004, e a adoptar a moeda Euro, em 2007. Encravada entre Áustria, Itália e Croácia, para quem como nós já andou por alguns dos países dos Balcãs aqui percebe-se pouco a irascibilidade que se costuma atribuir à região.

O povoamento no território que hoje conhecemos como Eslovénia vem desde a pré-história. Os celtas, que se expandiram por toda a Europa, também aqui chegaram em finais do século 4 a.C., fixando-se no nordeste e leste junto dos rio Mura e Drava. No século 1 vieram os romanos, seguindo as rotas do Passo de Razdrto que ligavam à península balcânica e à planície da Panónia, e acabaram por fundar várias colónias, entre as quais Emona, no lugar hoje ocupado pela capital Liubliana. A queda do Império Romano do Oriente no ano de 476 levou os romanos a emigrar, não sem antes terem deixado o cristianismo consolidado como a principal religião – até hoje. Depois dos bárbaros e dos bizantinos, no final do século 6 chegaram, por fim, os eslavos, instalando-se primeiro a norte do mar Adriático e a leste dos Alpes. Fontes escritas do século 8 já falavam da Carníola como a terra dos eslavos e assim permanece até aos nossos tempos. Estas terras dos eslavos foram durante os tempos terras de passagem de comércio e militares, onde os contactos entre povos se habituaram a ser a norma. Nos finais da Idade Média, a partir do século 13, a influência germânica passou a fazer-se sentir e os Habsburgos dominaram por mais de 6 séculos. O fim da I Grande Guerra Mundial em 1918 determinou a derrota do Império Austro-Hungaro e a queda dos Habsburgos, surgindo assim o reino independente dos Servos, Croatas e Eslovenos. Foi nessa época que a Eslovénia perdeu Trieste para a Itália. Manteve, porém, a sua identidade cultural e linguística, embora tivesse ficado algo perdida naquilo que viria a desenvolver-se como Jugoslávia, criada em 1929. Uma curiosidade: como a Eslovénia não possuía reis, foram a literatura e a cultura a desempenharem o papel de união e identidade da nação. Não surpreende, assim, que os escritores sejam vistos como heróis nacionais e seja a estátua do maior deles – o poeta France Preseren – que ocupe uma das praças centrais de Liubliana. O maior exemplo do romantismo esloveno não foi, porém, o que mais me seduziu; leia-se a poderosa crítica social de Ivan Cankar na sua obra “A Justiça de Yerney”.

Hoje as pequenas cidades da Eslovénia são encantadoras. Lubliana, a capital, a maior das pequenas, é bonita e muito agradável, com o centro histórico totalmente pedonal e com um castelo no alto a dominar uma bacia hidrográfica onde corre o rio Lublianica.



Mas foi pela sua natureza que a decidimos visitar. Terra de florestas – cobrem 62,3% do território da Eslovénia (em Portugal, por exemplo, a floresta ocupa 37,8% do território) -, montanhas, rios, lagos, cascatas e grutas, é um paraíso para os amantes das paisagens e actividades ao ar livre. Alugámos um carro – é na estrada sobretudo que se vê a diferença entre os outros Balcãs – e saímos a conhecer a parte ocidental do país. De Lubliana num pulinho nos pusemos nos Alpes de Kamnik – Savinja, que já se avistam da capital. E daqui seguimos para aquele que é o grande postal – totalmente merecido, diga-se desde já – do país: o Lago Bled. Já nos Alpes Julianos, partimos a atravessar os passos de estradas / montanhas do Parque Nacional de Triglav, o único esloveno, e seus lagos, rios, cascatas e trilhos. Que picos. E que cores. Triglav é o nome da montanha mais alta da Eslovénia, um símbolo tão poderoso que faz parte da sua bandeira. De Bovec, um dos melhores assentamentos para aquelas aventuras, descemos até ao norte da península de Istria, já no Adriático. Daqui, de volta a Lubliana tempo houve para duas paragens estratégicas para tornar o itinerário ainda mais diversificado, uma primeira para conhecer os incríveis frescos da igreja de Hrastovlje perdida no meio de mais um vale encravado em montes cénicos e uma última para admirar o Castelo de Predjama, exemplo singular numa gruta.

Nos dias de hoje, é por isto que viajo, em busca de paisagens que, acredito, não mais sairão da memória, e em que estes posts mais não farão do que ajudar a perdurá-la. A descobrir estes cenários em posts seguintes.