Lago Bled e Lago Bohinj

Não será exagero afirmar que todos os turistas que visitam a Eslovénia têm no seu plano o Bled. Mesmo aqueles que fogem de lugares massificados não têm a ousadia de o evitar. E ainda bem, este é mesmo um dos lugar a visitar pelo menos uma vez na vida.

Não à volta a dar, o Lago Bled é de uma beleza delicada e as suas águas são donas de uma cor e poder encantatórios. É de um carisma difícil de explicar. Receosos das multidões, levantámos cedo e às 8:00 já estávamos praticamente sozinhos diante das suas margens, prontos para subir ao Monte Ojstrica, a 611 metros de altitude. Junto a uma prainha onde se pode adentrar tranquilamente na água, há um pequeno trilho que sai do lado ocidental do Lago e que após uns 20 minutos de caminhada a subir pela floresta, primeiro sobre muita pedra e depois raízes de árvores, nos deixa cara a cara com a imagem altaneira e por inteiro do Bled. A este grandioso miradouro não lhe falta sequer um banquinho de madeira para melhor nos acomodarmos na contemplação desta paisagem soberba.

Há ainda a vista do Monte Osojnica, um pouco mais elevado mas na mesma direcção. Não o espreitámos e optámos antes por um percurso circular até ao Mala Osojnica, a 685 metros de altitude, um pouco mais a sudeste. Este caminho oferece-nos uma aberta no arvoredo para um belo vale antes de chegarmos à vista mais desejada. É talvez ainda mais soberba do que a do Osojnica e a cor cobalto da água parece mais intensa, não faltando novo banquinho para aplaudir esta maravilha. Ou então qualquer ponto de vista sobre o Bled nos enche as medidas. E não cansa.

Vistas destes miradouros – e da parte abaixo junto ao lago -, as montanhas que o enquadram são as cadeias montanhosas de Karavanke e dos Alpes de Kamnik-Savinja. Impressionam, mas é a ilha vista de cima que nos cativa, pequenina e com uma torre de igreja a destacar-se. É possível ir até lá num dos barcos típicos – o pletne -, mas acabámos por não fazer a viagem.

A toda a volta do lago há uma promenade que pode ser percorrida a pé. O centro urbano do Bled não tem graça especial, embora se vejam algumas vilas, uma delas em ruína mesmo na primeira linha do lago. Como é possível? Foi a partir do século 19 que uma certa burguesia europeia iniciou as visitas a este lugar de clima favorável e com fontes termais e o turismo no Bled desenvolveu-se desde aí. France Preseren, o maior poeta esloveno que viveu nessa época, escreveu ser esta a “imagem do paraíso”. Os peregrinos foram, porém, os primeiros a visitarem o lago. A tradição de peregrinação à ilha vem desde os tempos pagãos e continuou com o cristianismo, havendo menção à Igreja da Virgem Maria (hoje Santa Maria do Lago) e aos típicos barcos pletne como meio de transporte para lá chegar no distante ano de 1185.

E, depois, temos ainda o pitoresco Castelo de Bled instalado num rochedo 125 metros acima do Lago. Mencionado a primeira vez no ano de 1011, a sua actual aparência é muito diferente da original, mas a actual já vem do século 17. Antiga residência dos senhores, possui muros defensivos e torres, dois pátios, uma capela e um espaço museológico que mos dá a conhecer ser esta área povoada desde há 6000 anos. E um terraço que é mais um miradouro de excelência sobre o lago: aquele azul da água visto de cima volta a arrebatar.

Infelizmente não conseguimos visitar e caminhar pelo Vintgar Gorge, a pouca distância do Bled, uma vez que a estrada de acesso estava em obras e o trânsito condicionado, sendo a entrada exclusiva a compras prévias on-line, o que desconhecíamos.

Assim, do Bled seguimos para o Bohinj, pouco mais de meia hora de estrada por um vale com paisagens que fazem valer a espera para admirar mais um lago. O Lago Bohinj é maior, mais natural e tranquilo do que o seu primo mais famoso. Apresenta uma grande variedade de tonalidades de azul na água, desde o azul transparente ao azul cerrado. Já no Parque Nacional Triglav, as montanhas ao seu redor impõe respeito.

No lado leste do lago fica a Igreja São João Baptista e a imagem desta construção romanesca e barroca que originalmente data do século 11 enquadrada com a ponte é a mais famosa do Bohinj e uma das mais fotografadas de toda a Eslovénia.

Há uma série de lugares onde se pode dar um mergulho, mas nós escolhemos um junto a uma igreja mais recolhida, a de Sveti Duh, com uma nesga de areia à sua frente. A água é tão transparente que dá para perceber na perfeição os suaves movimentos dos peixes que nadam por lá. Juntámo-nos a eles e nem sentimos a diferença entre a temperatura do ar e a da água: estavam ambas a uns 25°. Que prazer dar umas braçadas num lugar tão inspirador como este.

Daqui para diante a estrada que ladeia o lago torna-se mais e mais bonita até chegar ao parque que antecede a Cascata Savica. O trilho até à cascata são 20 minutos a subir por uma escadaria sem dificuldade técnica, mas que pode cansar quem não esteja habituado a caminhar. De qualquer forma, pode sempre distrair-se com o som da água a correr, com a vegetação de faias e com belas abertas para o vale glaciar do Bohinj.

A Savica é a cascata mais visitada do país e bem o merece. Vários poetas deixaram-se inspirar por ela, entre os quais France Preseren com o seu “Baptismo no Savica” (“como em sua ira sua espuma voa para os céus”). A 894 metros de altitude, a sua forma é singular, uma letra A desenhada pela água que cai em dois lados juntos, uma numa queda de 78 metros e outra de 25 metros. E tem sempre água, alimentada pelo Crno Jezero (“lago negro”), a cerca de 500 metros acima da nossa cascata.

De volta ao Lago Bohinj e sua paisagem tipicamente glaciar, não perdemos o rasto ao rio Savica e espreitámo-lo uma vez mais, agora com a sua água incrivelmente transparente quase à beira do Bohinj, em Ukanc. Esta é a vertente ocidental do lago, não tão concorrida como a contrária, mas também muito frequentada. E a surpresa é constatar como pode este sítio ser tão tranquilo. Talvez a explicação esteja na magnânima protecção que lhe é dada pela enorme montanha que se levanta silenciosamente destas águas rumo aos céus.

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