Lausanne

A viagem comboio de Genebra para Lausanne é um encanto. O comboio vai seguindo com o lago Léman e as montanhas francesas com os picos nevados à nossa direita, numa contínua tranquilidade.

O centro de Lausanne fica numa zona elevada a uns dois quilómetros da beira desse mesmo lago Léman.

Ouchy é o nome do bairro junto ao lago, até onde foi construída uma moderna ligação de metro que segue em linha recta, requalificando parte dessa linha para passar a ser acompanhada por uma promenade verde.

Ouchy é desde o século XII um pequeno porto de pesca e comércio. Tem até hoje um castelo que serviu como defesa da costa. Zona agradável, ideal para um passeio de fim de semana ou fim de tarde, a frente de lago estende-se até se perder de vista.

Caminhando um pouco desde o centro de Ouchy chegamos até ao Museu Olímpico de Lausanne, paragem obrigatória para os fãs do desporto ou, tão somente, do maior evento do mundo.

As vistas desde o jardim do museu são fabulosas. Umas esculturas de alguns dos maiores corredores do mundo, como Emil Zatopek e Paavo Nurmi abrilhantam a localização junto ao lago. Temos ainda a pira olímpica e uma pista de tartan de 100 metros onde podemos testar os nossos dotes de Usain Bolt.

Este Museu Olímpico percorre a história desta criação humanitária, desde as suas raízes na antiguidade grega até se tornar o evento global da actualidade. Está lá a história do Barão Pierre de Coubertin, o mentor dos jogos modernos que nunca desistiu da sua ideia de unir o mundo inteiro com o pretexto do desporto. A história do movimento e do espírito olímpico é uma história de amizade, respeito mútuo e trocas, assente em valores. O programa é bonito e para quem ama o desporto o museu relembra que o mundo do desporto pode mesmo ser bonito. Revivemos aqui momentos dos Jogos, como o das cerimónias de abertura, vemos como a arquitectura dos espaços criados para os Jogos pode moldar e criar novas cidades, legando equipamentos que se tornaram verdadeiros ex libris das cidades, relembrarmos as suas mascotes e objectos vários. Temos ainda a hipótese de ver com os nossos próprios olhos e ali bem perto as medalhas atribuídas aos campeões desde a primeira edição.

Este é ainda um museu interactivo, com muitas experiências para que possamos imaginar o que é estar no lugar de um atleta de topo. Da tal pista de 100 metros com vista para o lago, até testar o equilíbrio como se nuns skis estivéssemos ou testar a nossa mobilidade e agilidade em desafios vários. A verdade é que os Jogos Olímpicos são parte da cultura de uma era e possuem uma influência enorme no nosso mundo moderno, motivos mais do que suficientes para uma visita a este museu.

Ainda em Ouchy, vários hotéis famosos ficam por aqui, incluindo o Hotel Angleterre onde Lord Byron passou uma temporada e, diz-se, escreveu a sua obra O Prisioneiro de Chillon.

E hóspedes famosos é o que nunca faltou a Lausanne. Alguns nomes mais: Voltaire, Mozart, Napoleão, Victor Hugo, Charles Dickens, Gandhi, Benito Mussolini, Coco Chanel, Charle Chaplin, George Simenon, Josephine Baker, Rita Hayword e a lista poderia continuar.

A localização da cidade é superior e isso pode ser atestado deste o miradouro do Parc de Milan, a meio caminho de Ouchy e do centro de Lausanne.

Minimamente percebidos os contornos e a envolvência geográfica de Lausanne, iniciaremos então a visita ao centro histórico da capital do cantão de Vaud.

Cidade medieval instalada num monte a quase 500 metros de altitude, a sua Catedral de Notre Dame é dominadora. Para lá chegarmos podemos começar por conhecer a Place de la Palud, o coração da cidade velha, onde fica o Hotel de la Ville, agora edifício municipal. Aqui tocou Mozart. Do passado ficam as extravagantes gárgulas que saem da sua fachada.

Ainda nesta praça, seguindo em direcção à sua pitoresca fonte – com a dona Justiça como personagem principal -, chegamos às Escaliers du Marché, uma via que liga directamente o centro da cidade à catedral. É sempre a subir por umas escadas de madeira cobertas, podendo optar ao invés por subir ao seu lado na rua empedrada onde ficam alguns edifícios típicos em escadinha. Muito bonito.

Chegados ao final das escadas, já na praça da Catedral, vemos o serpentear desta espécie de túnel de madeira e, sobretudo, uma vista fantástica de toda a cidade e lago.

A Catedral de Notre Dame é enorme e uma das mais gabadas de toda a Suiça. Em estilo gótico, do século XIII, a primeira imagem para quem chega desde as Escaliers du Marché é o seu portal com figuras em tamanho real. No seu interior impressiona o janela rosa medieval rendilhada com vitral representando o mundo no início do século XIII.

É possível subir os mais de 200 degraus que nos levam até ao seu campanário. O que não era esperado era que alguns dos seus sete sinos tocassem justamente no momento da subida. Susto. Logo redimido com a vista de pássaro que se alcança.

À volta da Catedral ficam as ruas Cité-Devant e Cité-Derrière, duas ruas paralelas onde é possível encontrar alguns exemplares de janelas com portadas que são também a marca de Lausanne. Isso e uma certa arquitectura chateau, sem ser monumental.

Aqui perto fica, precisamente, o Château de Saint-Maire, originalmente a casa dos bispos no século XV, hoje lugar de departamentos da administração pública.

Em baixo fica a Praça Riponne, larga mas sem grande piada a não ser os edifícios correspondentes aos museus da cidade.

Do lado contrário, seguindo novamente desde a Place de la Palud, mas agora sem subir até à Catedral, chegamos à Rue de Bourg. É a rua das lojas da cidade. E nela e nas ruas que a rodeiam pude concluir algo que pode ser injusto para quem passa por uma cidade meros dois dias: não entendo como pode Lausanne ser considerada uma das cidades mais bonitas da Suiça.

Embora o facto de o seu centro ser um constante sobe e desce e um labirinto típico de cidades medievais não ser impeditivo para se considerar uma cidade encantadora (este facto até costuma jogar a favor do encantamento), tudo o resto me pareceu um obstáculo para aqui encontrar, no seu conjunto, uma cidade a que deseje voltar. Para além de não encontrarmos edifícios monumentais ou interessantes, tirando um ou outro elemento decorativo, muitos dos edifícios do centro da cidade estão descuidados, em ruína e rabiscados. Vê-se lixo nas ruas. Pior, por revoltante, vê-se tanta gente a pedir. Morenos e loiros, para que o estigma dos estrangeiros que nos invadem fique já colocado de lado. Não é, de todo, a típica cidade suiça da nossa imaginação, com tudo ordenado e perfeito.

Aparte a iluminação natural vinda do lago, a cidade é escura. Isto em termos históricos. Nos dias de hoje, valha a verdade, mesmo no centro encontramos novos edifícios cheios de cor, até uma empena desenhada, que quebram aquela modorra.

O maior símbolo da regeneração arquitectónica de Lausanne encontramo-lo perto da torre do relógio do primeiro arranha-céus da cidade, a torre Bel-Air, dos anos trinta do século passado. É o Quartier du Flôn, um antigo vale que em tempos antigos era lugar de vinhas e moinhos e hoje, com uma cara totalmente diferente, aparece com restaurantes, bares, lojas e cinemas. É um caso de sucesso e orgulho na cidade.

Em Lausanne, dois espaços mais a visitar, bem ao meu gosto, um para cada direcção. Um parque e um museu.

O Parc de Mon-Repos é, como o nome indica, um sítio para relaxar. Como elemento mais distintivo, a sua torre neo-gótica com uns fios de água que correm perto. Atravessada a via de acesso ao tribunal que aqui tem a sua sede, o parque continua com muitos caminhos que vão dar quer a um aviário, quer ao edifício que foi lugar de apresentação de peças de Voltaire.

Já o museu Colecção de Arte Bruta, criado pelo pintor Jean Dubuffet, é uma viagem e uma abertura a toda a espécie de arte, independentemente dos seus autores – autodidatas, muitas das vezes indivíduos com problemas psiquiátricos ou vivendo à margem da sociedade – ou materiais usados – madeira, conchas, até legumes secos. Uma forma inclusiva de deixar Lausanne.

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