A Roménia deve ser, aos olhos do português comum, dos países mais mal afamados. Custa a crer que a comunidade romena em Portugal seja a terceira maior estrangeira, apenas atrás da brasileira e da cabo-verdiana, e nós, portugueses, tenhamos tantos preconceitos em relação ao país e aos seus habitantes. A reacção mais frequente quando se fala em Roménia e romenos é pensar-se em pobreza e em ciganos. O desconhecimento do outro leva a ideias (mal) feitas. Uma viagem à Roménia torna-nos conhecedores de uma realidade muito diferente e surpreendente.
São três as regiões que formam o que é hoje a Roménia: a Wallachia, a Moldávia e a Transilvânia, mais o pequeno território de Maramures. Mas nem sempre foi assim. Antes das tribos Dacias autóctones (é daqui que vem o nome da marca de carros Dacia) já havia ocupação do território desde o Neolítico e da Idade do Bronze. Sempre alvo de migrações, os romanos estiveram aqui por breves 2 séculos, seguindo-se os mais influentes magiares e saxões, na Transilvânia. As invasões tártaras e otomanas foram marcantes e perduraram após a fundação do primeiro principiado romeno, o da Wallachia, e do segundo, o da Moldávia, ambos no século XIV. A Transilvânia era então um principiado húngaro. Foi apenas em 1862 que surgiu o nome “Roménia” para designar a entidade que no ano anterior tinha sido criada como a União Romena dos Principiados da Wallachia e da Moldávia. E foi apenas após a I Grande Guerra Mundial, com a queda do Império Austro-Húngaro, que se deu a anexação da Transilvânia e a formação da Grande Roménia. As fronteiras não se mantiveram, porém, totalmente estáveis desde aí. Mais decisivo, após a II Grande Guerra Mundial a Roménia caiu na esfera do comunismo e Nicolae Ceausescu governou de forma ditatorial o país por 25 anos, entre 1964 e 1989, ano da Revolução Romena em que não só foi deitado abaixo do poder o ditador como este foi executado juntamente com a sua mulher.
Ou seja, apenas há 30 anos a Roménia começou a abrir-se ao mundo e foi-se vendo livre de uma época política e económica que a fez estagnar e atirou muitos dos seus cidadãos para a pobreza, para além da falta de liberdade e do terror das perseguições do estado comunista, sendo que estes apenas em 2004 deixaram de fazer parte do governo. E isso explica muito acerca das ideias instaladas de pobreza e emigração da Roménia: cerca de um em cada cinco romenos é emigrante.
A Roménia entrou para a União Europeia em 2007 (embora não seja membro nem da zona Schengen nem do Euro) e talvez isso possa vir a mudar a situação. Viajando pela Roménia vêem-se indivíduos cuja identidade romena, húngara e alemã surge mesclada. Não se vêem muitos romas e, quanto a estes, os próprios romenos terão preconceitos. O parque automóvel é moderno e o uso de telemóveis massificado – delicioso ver a senhora do campo a conduzir a carroça puxada por cavalos enquanto falava ao telemóvel. Indesmentível, sim, é o facto de a Roménia ser um país rural: 60% da sua terra é agrícola. E 1/3 do seu território é montanhoso. Aliás, a grande cordilheira dos Cárpatos, que corre parte da Europa Central, tem 50% da sua área na Roménia. A paisagem é, pois, bela nos seus acidentes geográficos e pacata nos vales que cortam essa rebeldia.
E culturalmente a Roménia é uma terra poderosa, mantendo as suas tradições vincadas em regiões ainda algo remotas, como Maramures e Bucovina (Moldávia). Isso vê-se nos trajes das suas gentes, nas suas tradições artesanais e na sua arquitectura – as igrejas de madeira de Maramures e os mosteiros pintados de Bucovina são algo único e inesquecível (rodeada de países eslavos, a Roménia é o único país latino da região, mas curiosamente a sua religião não é a católica, antes a cristã ortodoxa). A Transilvânia, essa, não precisa das histórias de Vlad, o Empalador, ou Vlad, o Conde Drácula, para nos seduzir. Não. Basta a sua paisagem natural, as suas cidades e aldeias saxãs, com igrejas fortificadas, e a sua gente simples e alegre para nos fazer perder de amores pela Transilvânia.
Este itinerário pela Roménia merecia ter sido mais demorado e ter ainda incluído mais paragens, em especial no Delta do Danúbio, na costa do Mar Negro. As escolhas, sempre as escolhas. Mas com voos directos desde Lisboa para a capital Bucareste, a primeira paragem deste itinerário, e com voos frequentes para diversos pontos do país (os restantes transportes públicos nem sempre são convenientes para deslocações rápidas entre as regiões), temos tudo a nosso favor para ir conhecer pelo menos parte do país donde são provenientes tantos dos nossos companheiros de dia-a-dia em Portugal.
Muito bom! Infelizmente ainda existe bastante esse preconceito em relação à Roménia mas a mim é um dos países que sempre me chamou à atenção e espero um dia poder visitar!
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Olá, Telma
Vale mesmo a pena visitar a Roménia. A paisagem é super bonita e as aldeias e cidades muito pitorescas. E, melhor, temos o país quase todo só para nós, porque o turismo ainda não é muito.
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