Durante muitos anos preferi a Madeira aos Açores. Hoje não prefiro nada. É a ilha, qualquer uma delas, que me atrai. Dito isto, voltei aos Açores, a São Miguel.
A felicidade de acordar e assomar à janela para observar o mar, sem fim, desde o meio do Atlântico é dificilmente explicável mesmo para quem mora à beira Tejo e facilmente não vê se não água à sua frente. Mas não é a mesma coisa.
Em casa, já tinha percebido que olhar o rio, com sol ou com chuva, é sempre uma delícia. E nos Açores já tinha aprendido que o seu clima é uma inevitabilidade e parte do seu encanto e não há que lamentá-lo. Desta vez já não ia (tão) ansiosa com o clima que me calharia em sorte e, talvez por isso, não foi a euforia que me dominou, antes um leve mas reconfortante sorriso e um agradecimento por sair de uns 14° com chuva para uns 19° de céu quase limpo para a principal ilha do arquipélago dos Açores.
São Miguel é apodada de “ilha verde”. Há muitos anos (décadas, até) que não voltava e depois de ter passado por outras ilhas do arquipélago não entendia o porquê de ser esta a “ilha verde” se todas as outras estão carregadas de tapetes dessa cor. Mas, logo após sair do avião e sentir o cheiro a bosta, o segundo sentido vai por inteiro para a visão carregada do verde dos seus montes, vales e campos. Tudo é incrivelmente verde, até mais do que nas suas ilhas irmãs, aqui cabendo todas as tonalidades dessa cor possíveis e imaginárias.
Situada no grupo oriental na companhia da ilha de Santa Maria (a primeira a ser descoberta), São Miguel é a principal e maior ilha do arquipélago. Depois de achada a ilha de Santa Maria, o Infante Dom Henrique encarregou Gonçalo Velho de descobrir e povoar mais ilhas – crê-se, no entanto, que não só se tivesse conhecimento há muito da ilha de São Miguel como está já fosse povoada. De qualquer forma, oficialmente foi no lugar de Povoação que Gonçalo Velho desembarcou pela primeira vez no dia 29 de Setembro de 1444 (dia consagrado a São Miguel Arcanjo) e aqui se começou a assentar povoamento na ilha. Hoje, a capital da ilha e do arquipélago é Ponta Delgada e em São Miguel vive metade da população dos Açores.
E a ilha é a mais favorecida pelos voos, daí que não surpreenda que seja a mais procurada. Não vou discutir se é a mais bonita, pois esse é tema delicado e sem conclusão possível. Mas é, seguramente, a mais fácil de se visitar após se pisar a ilha, não havendo que calcorrear muito para se admirar os seus principais atrativos. Um conselho, a este propósito: fuja dos meses mais concorridos do Verão, pois é impossível termos a ilha em sossego nesta época.
Como escrevia a Conde Nast Traveler deste último mês – sim, o segredo está nas bocas do mundo -, os Açores são essencialmente vulcões no meio do oceano. E São Miguel está cheia de crateras desses vulcões transformadas em lagoas e lagos, cada um mais emocionalmente cortante do que o outro.
Nesta curta viagem não foi possível ver mais do que as “atracções principais”, deixando com muita pena o Nordeste intocado (a região da ilha de São Miguel que de tão isolada já foi considerada a 10ª ilha). Com isso, e querendo tornar-me repetitiva, fica mais uma desculpa para voltar.