Ao contrário do Sabugal, a cujo concelho hoje pertence, Vila do Touro era domínio português no século XIII. As suas terras haviam sido doadas à Ordem dos Templários sob a condição de aí ser construído um castelo, pelo que, em 1220, Pedro Alvites, mestre dessa ordem, concedeu-lhe foral. A ideia era a de defender a fronteira de Portugal, delimitada então pelo rio Côa. Constituía, pois, um lugar estratégico. Do castelo pouco resta nos nossos dias e quanto à localização da hoje aldeia, essa, se não é já estratégica, continua uma maravilha.

De nome curioso, o topónimo Vila do Touro terá origem em “taurus”, o nome que na antiguidade clássica era dado às proeminências geográficas destacadas na paisagem. O castelo, cuja construção foi iniciada no século XIII, acabou por nunca ser concluído, uma vez que com a assinatura do Tratado de Alcanizes, em 1297, a fronteira de Portugal avançou para leste e a função dos castelos de Vila do Touro e da Sortelha de fazer frente aos castelos leoneses do Sabugal, de Alfaiates e de Vilar Maior deixou de ter a mesma importância. De qualquer forma, dá para perceber na perfeição aquela que constituía a sua entrada principal, a porta em arco ogival onde ainda hoje está adossado um troço de muralha. Esta é a vertente sul e no lado contrário encontramos um outro troço da muralha.

Pelo meio, sempre a subir, percorremos um espaço preenchido com uma série de árvores e com afloramentos graníticos, no que mais parece um parque natural. O antigo castelo inacabado aproveitava este relevo acidentado. Escavações arqueológicas aqui efectuadas – e os trabalhos continuam – deram com sementes que permitiram traçar a alimentação dos nossos antepassados. E, marca distintiva da antiga vila, em vários afloramentos rochosos perceberam-se tabuleiros de jogo gravados na pedra (no recinto do que era o castelo, mas também junto à Capela de Nossa Senhora do Mercado), algo que já se conhecia das fortificações da Beira Interior.


No topo deste cabeço a pouco mais de 800 metros de altitude existe um marco geodésico, mas todo o recinto é um belo miradouro, avistando-se os montes nas redondezas e até a Guarda. Daqui temos, igualmente, uma perspectiva privilegiada da povoação de Vila do Touro, logo ali à porta.

À entrada da aldeia recebe-nos a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, de provável origem seiscentista, mas muito remodelada em datas mais recentes. Tem um campanário isolado e ao largo um pelourinho no meio de um minúsculo jardim.


Daqui segue a Rua Direita onde, juntamente com outra que lhe é paralela, encontramos algumas janelas com decoração manuelina talvez do século XVI ou seguintes. Uma bela surpresa que torna o passeio por esta aldeia ainda mais agradável e inesquecível.