Do Parque da Bela Vista quase todos terão ouvido falar, por aqui se realizar o Rock in Rio. Mas conhecê-lo-ão para lá de todo o folclore? Saberão que esta é a maior mancha verde de Lisboa depois de Monsanto? E que desde 2018 tem a companhia do Parque Urbano Vale da Montanha?

Situados em Marvila, zona oriental da cidade, estes dois parques estão longe de ser centrais, mas à boleia da ideia do Corredor Verde de Lisboa possuem uma ligação não apenas entre eles mas também com o centro da cidade.


Comecemos este passeio pelo Parque da Bela Vista pela sua entrada norte, depois de percebermos as vinhas com vista para o aeroporto que preenchem uma das colinas vizinhas. A partir dos anos 1960 a zona foi sendo ocupada por vários conjuntos habitacionais que vieram urbanizar Chelas. Até aí este era um território de quintas e hortas, pura ruralidade, ambiente que retém até hoje apesar dos prédios que agora o rodeiam. A origem do Parque é, precisamente, essa, antigas quintas que se tornaram um enorme espaço verde. São 85 hectares e logo à entrada podemos apreciar o fantástico vale que se debruça abaixo de nós e o largo espaço que ocupa. São sobretudo zonas de prado e de relvado, com muito arvoredo – oliveiras, pinheiros e sobreiros – e caminhos à mistura.




Instalada numa colina que se levanta algo abrupta sobre a Avenida Gago Coutinho, as suas partes mais elevadas servem de miradouro para uma grande parte da cidade de Lisboa. De forma mais imediata, praticamente ao esticar de uma mão, temos o bairro de Alvalade e do Areeiro, constantemente alvos de razias dos aviões que em breve aterrarão na pista ali perto. Mais ao fundo, o rio Tejo. A vista da larga clareira central é fantástica e o desenho ondulante do jardim encaixa na perfeição no vale.

Vale abaixo não caímos logo no Tejo, antes atravessamos a Avenida Marechal António de Spínola (que liga Braço de Prata à Gago Coutinho) por cima do seu viaduto. O Parque da Bela Vista continua com os seus caminhos, mas agora estamos na sua vertente sul, cada vez mais perto do vale das Olaias.


É aqui que se lhe junta o novo Parque do Vale da Montanha, mais 11 hectares de caminhos pedonais e cicláveis que com a Bela Vista se confundem. O nome “Montanha” toma o de uma antiga quinta que aqui existia e que até há pouco tempo partilhou o terreno com hortas e com construções de habitação ilegal. Já não estamos numa colina, antes na encosta do vale que foi aproveitada de forma brilhante para a implementação deste parque. Como acima referido, o Parque Vale da Montanha foi construído no âmbito do desenvolvimento do Corredor Verde Oriental de Lisboa, constituindo uma linha de continuidade em relação ao Parque da Bela Vista, sendo não apenas um espaço verde, mas também de ligação a outros espaços verdes envolventes. Esta ideia de Corredor Verde está intimamente ligada à necessidade das zonas urbanas das cidades face à existência de espaços verdes que lhe sirvam numa dupla função de paisagem e recreação.

O desenho do Vale da Montanha e as ideias expressas acima podem ser apreciadas na perfeição desde a ponte pedonal e ciclável que nos leva até à colina do Casal Vistoso (Areeiro) ao atravessar o vale das Olaias. A linha de comboio corre no seu sopé e não é ofensa nenhuma afirmar que linhas férreas não costumam ser áreas muito valorizadas em termos paisagísticos. Mas esta obra de requalificação veio mudar todo esse cenário e num risco um espaço marginal à cidade tornou-se uma beleza que merece ser vista e desfrutada.


E com ela ficámos com as Avenidas Novas ligadas a Marvila de uma forma engenhosa, mas natural e pura.